Loas são comumente evocados para
trazer proteção ou cura para os enfermos mais estimados. Oferendas são
metodicamente postas nas encruzilhadas, onde se acredita que os mortos
perambulam e fazem a passagem do mundo material para o espiritual.
Já nas catacumbas abaixo da cidade de New Orleans, um rato se esgueira por
entre um punhado de osso, o animal robusto tem certa dificuldade em passar por
um buraco, menor que seu tamanho e ele almeja chegar ao ar puro
noturno que um cemitério costuma possuir.
Primeiramente um pé
esquerdo era notado pelo rato, arredio ele se afasta olhando para a figura
do homem descalço. Agora o animal parecia referenciá-lo, pois curiosamente
reconhecia o homem negro, o vira balbuciar algo enquanto girava entre os
dedos uma conta de seu colar. Depois o rato continua sua jornada até um
beco escuso para se esbaldar em alguma lixeira e suas sobras... Já, o Barão é lembrado
precisamente pela boa aventurança na acolhida dos mortos ou em casos
corriqueiros quando um relacionamento não vai bem das pernas e é lembrado.
Posteriormente, o Barão aparece em uma dessas lápides do cemitério, ele
está de cócoras observando o serpentear das chamas naquela noite fria.
As meninas dos olhos refletem as chamas das velas, o rosto pintado como
uma caveira faz um sorriso de satisfação florescer a face do homem
negro. O Barão prontamente desce da lápide levando a mão até o um dos
crânios perdido ali, sem a mandíbula, depois leva a própria face até o
que resta da boca cadavérica e a beija de forma cúmplice.
O
Barão coloca delicadamente a caveira em seu repouso e volta caminhar pelo
jardim dos mortos. Ele traja um terno elegante, daqueles que os defuntos
vestem no dia de sua despedida para com seus entes queridos, uma
bengala em mãos e em contraste os pés sempre descalços. Ele olha para os
nomes gravados no cimento frio, se recorda da conversa que teve com
cada uma daquelas almas, algumas delas aceitavam a sua sina de bom grado,
pois são boas almas que dava gosto de se conversar, outras ainda
apegados ao Plano Material desacreditadas enlouqueciam e restava ao
Barão confortá-las. Algumas outras estavam simplesmente condenadas por
seus atos.
O homem negro volta sua atenção para a lua e logo um
belo cântico toma conta da região. Alguns rostos são avistados pela
luminosidade das velas, se nota tristeza em suas faces e em outras se vê
ternura. Ali estão sua maioria haitianos que sobrevivem duramente nos
subúrbio da cidade. Comunidade essa onde o sèvis gine é exemplarmente
praticado e execrado por outra religião dominante. Tolos mal sabem da
verdade, o Barão ri sabendo de suas certezas, se recompõe prestando atenção
nos dizeres daquela procissão. Eles o convidam para ter com ele, O
Barão sorri atendendo àquele chamado e tenta passar despercebido,
curioso em ver quem era o novo defunto.
Gira sua bengala entre
os dedos, para depois encostá-la ao chão e apoiar-se para pegar algo em
um de seus bolsos. Um charuto enrolado na coxa de uma senhorinha negra
de um país vizinho dos ali presentes. Safra boa que faz até o Barão o cheirar e depois usar uma vela acesa para acendê-lo. Três tragadas foram
suficientes, logo em seguida ele abaixa o charuto e solta a fumaça
com um prazer ímpar.
A fumaça por sua vez expande e o turva
graças a sua natureza sobrenatural. Pura magia que facilmente passaria
despercebida para os olhos dos leigos, se não fosse uma garotinha de não
mais que seis anos de idade o observando. A criança por sua vez chama a
atenção de sua mãe, ela puxa a saia florida que a mulher vestia.
-Olha mamãe, o Barão!!!
O Homem negro leva a mão até a boca e faz sinal de silêncio, a garotinha assente com a cabeça tampando a boca e depois ri acenando. A mãe a coloca no colo e chega a olhar na direção que o Barão verdadeiramente estava.
O Homem negro leva a mão até a boca e faz sinal de silêncio, a garotinha assente com a cabeça tampando a boca e depois ri acenando. A mãe a coloca no colo e chega a olhar na direção que o Barão verdadeiramente estava.
-É, é o barão, filhinha...
A mulher não havia visto verdadeiramente o homem com o rosto pintado de caveira, mas pela fé tinha certeza que ele os acompanhava naquele momento de despedida. Ela agora beijava a testa da criança e continuava cantando à medida que uma lágrima escorria pela face.
A mulher não havia visto verdadeiramente o homem com o rosto pintado de caveira, mas pela fé tinha certeza que ele os acompanhava naquele momento de despedida. Ela agora beijava a testa da criança e continuava cantando à medida que uma lágrima escorria pela face.
O
Barão havia escalado uma das catacumbas e aguardou sentando-se no
parapeito da estrutura, onde gárgulas são vistas com suas caretas. O
coveiro já acostumado com as coisas estranhas que aparecem no cemitério
apenas sorri para o homem da catacumba. Uma leve brisa percorre
as pessoas fazendo as chamas tremularem brevemente.
-Sabe? Aquela menininha é a minha neta...
O Barão vira a cabeça para o homem, olha na direção da criança e o convida para se sentar ali.
-Não se preocupe, senhor... Saiba que ela será uma mulher
bastante forte no futuro? Deviado a sua criação.
O senhor de cinquenta e sete anos olha para seu caixão sendo fechado, ele vislumbra que seu velho companheiro de guerra estava lá. O amigo no momento de sua morte pediu para que visse seu enterro. Ele olha para seus familiares e amigos, ele leva a mão até o coração como um gesto simbólico de ter cumprido sua missão.
O senhor de cinquenta e sete anos olha para seu caixão sendo fechado, ele vislumbra que seu velho companheiro de guerra estava lá. O amigo no momento de sua morte pediu para que visse seu enterro. Ele olha para seus familiares e amigos, ele leva a mão até o coração como um gesto simbólico de ter cumprido sua missão.
-Não
se preocupe, é hora de deixar os vivos viverem!
O Barão aponta para si mesmo apagando o charuto e depois se levanta.
-Sei que é difícil largar os vícios da carne, mas você levou uma boa vida e compreenda que será bem vindo lá, meu caro saxofonista!
O Barão aponta para si mesmo apagando o charuto e depois se levanta.
-Sei que é difícil largar os vícios da carne, mas você levou uma boa vida e compreenda que será bem vindo lá, meu caro saxofonista!
O avô esfrega os olhos e caminha
na direção do Barão, esse já estava de braços abertos e o recebe com um
abraço forte. O senhor de idade era uma daquelas almas boas de estar
presente, mas seu corpo estava calejado do viver. Nas ultimas semanas
ficara internado em uma UTI e morrera recentemente.
-Obrigado meu bom senhor, Barão de Samedi!
-Obrigado meu bom senhor, Barão de Samedi!
Gradativamente a alma do avô vai desaparecendo para o além-túmulo. O
Barão por sua vez volta a caminhar por entre as lápides, ele recolhe uma
estatueta sua, cuja imagem o representa usando uma cartola e depois faz
uma caricia nela como agradecendo a pessoa pela oferenda.
-Hum, nada mau, nada mau mesmo! hehehe
O Barão sorri chacoalhando a bengala e dizendo algo em haitiano. Prontamente uma cartola aparece em sua cabeça. A noite havia só começado e seu trabalho não o deixava descansar, mas fazia tudo aquilo com muito zelo e desaparecia com aquele luar...
O Barão sorri chacoalhando a bengala e dizendo algo em haitiano. Prontamente uma cartola aparece em sua cabeça. A noite havia só começado e seu trabalho não o deixava descansar, mas fazia tudo aquilo com muito zelo e desaparecia com aquele luar...
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