quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Uma História de Vapor e Fúria – Capítulo Um: Não Olhe pra Trás.



 Porto do Sal, outono do ano de 7.042, a cidade fervilha de vida, pessoas de todos os cantos do mundo chegam e partem de sua proteção. Fosse pelo mar, estradas, monotrilho ou pelos ares. O bardo de moicano negro se encontra em um pub bem movimentado e convidativo. Ele traja um sobretudo vermelho emoldurado por correntes prateadas, traz em uma mão um case preto e uma mochila nas costas.

 Apostas naquele tipo de estabelecimento eram comuns para medir a força, destreza ou perspicácia de seus clientes. Vandred Hertz se encontra numa performance nesse momento, sua guitarra está conectada a um amplificador alimentado por uma bobina hermética de raio dourados. Ele traz um sorriso prazeroso à face, quando pessoas ali jogam peças de prata por apreciarem a música, outros músicos compõem a banda e o ritmo agitado faz os ouvintes dançarem alucinados.

 O bardo fica de gracejo quando uma donzela faz um pedido pessoal aos músicos. Há agora detalhes mais perceptíveis, seu traje de couro curtido e rebites, se mesclam a aparatos mecânicos e sobre o pescoço há um óculos típico de aviador de lente preta.

 Entre uma música e outra, Vandred saúda os espectadores bebendo uma cerveja gelada e arruma o moicano com um pente. A noite está agradável, flertando aqui e ali. Já no começo da madrugada se encontra com o dono do pub e recebe o soldo pela apresentação daquele dia. Dividiu igualmente as moedas com os outros músicos e saiu do estabelecimento pela porta dos fundos.

 O bardo leva a case da Belladona consigo. Já do lado de fora pega o maço de cigarros no bolso do sobretudo que usa, alcança o zipo e dá uma larga tragada para acendê-lo. A fim de afastar o stress de imaginar o retorno para o quarto imundo que estava hospedado. Nuances de uma vida de um caçador de recompensas.

 O expelir da fumaça é relaxante, depois de encostar a cabeça na parede, chega a levantar o pé esquerdo para apoia-lo na mesma a espera de um rosto amigo para tratar de "negócios".

-Aqui está o dinheiro, Hertz!

 De uma parte escura, um corpulento homem se aproxima e estende um saco para o bardo. Vandred pega o saco verificando a quantia nele e está acompanhado de um bilhete.

-Está tudo aqui e é sempre bom trabalhar pra você, nos veremos no próximo mês!

 Falta apenas 3 dias para o próximo mês, mas ainda resta um último trabalho, então abre o bilhete e vê a foto de um robgoblin usando cocar, uma cicatriz peculiar no lado direito do rosto e o olho morto. Busca um cigarro do maço e entrega para o gorducho de bigode com cara fechada. O bardo acende o cigarro e aperta firme a mão do bigodudo.

 Dá as costas e caminha para fora do beco, mas teve a sensação de estar sendo seguido. Seu trajeto continua pelas vielas da Cidade Porto do Sal até chegar à Praça Principal. Ali vê alguns rostos conhecidos e depois segue o caminhar pela Feira Noturna, porém ao passar pela Travessa do Desprezo fora abordado por robgoblins.  

-Passa o dinheiro, humano... Ah ah e sem reagir!

 A voz gutural fora carregada de ódio e um ia cuspe ao chão. Vandred sorri pela ousadia da abordagem.

- Ora, ora, não gostariam de ouvir uma boa música?

 Em seguida avista o que parecia ser o líder dos meliantes saindo da proteção das sombras. Esse traz em mãos uma besta, a qual embebe a ponta do virote com veneno. O bardo observa rapidamente o cenário e sua mente ágil agia, o case possuí uma arma com certa quantia de munição “A Belladona”, em caso de emergência usa o modo de rajada disparando sem hesitar.

 - Como diria meu tio? Engulam chumbo!!! Hehehe

 A risada gostosa agora é abafada pelas balas que rasgam o ar ferozmente. O objetivo de Vandred é criar obstáculos entre si e eles. Acertar as escadas de metal enferrujado, para que ruíssem sobre os robgoblins é uma boa ideia e certamente seria bem executada.

 Esses saltam para os lados, a fim de se protegerem, mas um deles não teve tanta sorte sendo esmagado pelo ferro retorcido, o que causava um barulho infernal. A besta fora disparada, o virote acabou por acertar o case que o bardo usou como escudo. logo em seguida ao movimento da rajada. Os dois robgoblins restantes sacaram suas flintlock e disparam na direção das caixas onde o bardo havia se jogado. Teve sorte, pois um tiro pegou de raspão no ombro esquerdo.

-Vocês deveriam ajudar seu amigo ferido... Hehehe e me deixar sair daqui como se nada tivesse acontecido, mesmo que tenham estragado meu sobretudo!

 Vandred chega a colocar o dedo indicador no buraco feito pela bala.

 -Cala boca, humano imundo!

  O "líder" robgoblin vociferava e muda de posição.

 - Ouço um ratinho caminhando! Hehehe... Pelo jeito terei de usar a Rose!

 Vandred enfim remove a guitarra do case e pluga no mini amplificador que traz na mochila nas costas.

 - Essa música é pra vocês, aberrações. Para que se lembrem de nunca assaltar um bardo fortemente armado.  

 Um dos dois robgoblins dispara a esmo para fazer Vandred aparecer e o provoca.

- Uhh que medinho e vai tocar uma canção de ninar, humano? Huahuahua

 As notas que foram dedilhadas tem um ritmo calmo que bruscamente se torna frenético, ondas sônicas zunem no ar e são disparadas na direção dos robgoblins. Esses desviam como podem, afinal não eram tão estúpidos assim e eles pertencem a Gang do Escalpo Vermelho. O símbolo da gang era denotado pela mão direita pintada sobre as cabeças raspadas de seus membros.

 Posteriormente uma distorção nas cordas daria cabo da segunda bala disparada em sua direção, fazendo desviar a trajetória certeira em seu peito e depois se esconder atrás de uma parede. O restante das pombas empoleiradas nos parapeitos dos prédios alçam voo por conta do ataque sonoro.  A lua estava em um tom prateado gélido e não era hora de donzela alguma estar próxima a Travessa do Desprezo.

 Eis que surge um rosto conhecido, que o bardo tenta se lembrar e instintivamente trazer o bilhete em mãos. Era o líder deles, usando um característico cocar. Apenas o silêncio era ouvido nesse momento.

-Agora sim, eu não poderia ser mais sortudo! 

 Há uma gorda recompensa caso capturasse o real líder da Gang do Escalpo Vermelho e ali estaa ele de bom grado, mas trazendo uma refém consigo e ela finda o silêncio entre o pranto de maus tratos. O volume do amplificador está no talo, apesar de nenhuma nota ter sido tocada novamente, o local onde Vandred está se encontra limpo, pois a onda sônica varre a sujeira dali sem algum esforço.

 Ao fundo ouvem-se xingos de pessoas do subúrbio querendo dormir ou falando que chamariam a guarda local. Mas dificilmente A Lei se daria o trabalho em ir em região tão escusa, a não ser pra receber propina e fazer vista grossa, pois o submundo do crime era dominante. Olha incrédulo, pois ela será usada para chantageá-lo e por causa dela iriam se foder.

 - Puta que o pariu, vai dar merda!!!

 O bardo chuta uma caixa próxima ao ver a moça tendo um punhal rente ao pescoço, já as vestimentas e o decote ousado remetem que ela seja uma mulher da vida. O robgoblin tem lá seus 1,93m de altura, sub-raça essa que está no meio da hierarquia goblínica. As nuvens agora dançam uma ciranda com a lua, que pouco tempo depois era engolfada pela escuridão, confiava em sua taco. Os outros dois robgoblins, menores começam a cerca-lo.

 Mas até que um deles havia dado uma boa ideia anteriormente. Vandred abaixa duas alavancas da Rose e os tons do dedilhar haviam sido alterados. Tenta se afastar subindo em uma das caixas próximo, para ter uma maior amplitude da música que iria tocar nesse momento.

 Era A Balada de Morpheus, que logo faria os cinco ali presentes pestanejarem, mas para o líder era nítido que resistiria bravamente, sem ao menos assoprar em um berrante e consequentemente chamaria a atenção de reforços.

- Para com essa porcaria ou... ZZzzzZZZZzzz 

 Forçava a lâmina contra o pescocinho desprotegido da meretriz, fazendo um pequeno filete de sangue escorrer, momentos depois sente o corpo do brutamontes amolecer e ambos caem ao chão em um baque. 

 Apesar da vida sofrida, a garota merece ter a vida salva, afinal que bardo não arrisca a própria vida em salvar uma donzela? E não será nesse final de semana que Vandred partirá de Porto do Sal. Afinal alguma perguntas devem ser respondidas, porque especificamente aqueles robgoblins o seguia? E  ainda logo após o gorducho lhe dar o trabalho de eliminar o líder deles? 

- Muito suspeito?!.

 O bardo guarda a Rose à medida que passos pesados começam a chegar na região.  Ele se apressa em pegar Dorotty no colo e na calada da noite Vandred desaparece na rua paralela ao beco.

Nenhum comentário: